Há dois meses instalados em uma estrutura provisória, os comerciantes do Shopping Popular reclamam do valor do condomínio, da falta de condições para tocar o negócio e da queda vertiginosa no faturamento.
O Shopping Popular foi destruído por um grande incêndio no dia 15 de julho do ano passado.
Nesta semana a reportagem esteve na estrutura provisória e conversou com comerciantes, além de verificar o cenário em que trabalham. No dia da visita, mais de 250 bancas estavam fechadas, e empreendedores explicam que o motivo é a inviabilidade financeira.
Antes do incêndio, em julho do ano passado, o valor do condomínio cobrado pela Associação dos Comerciantes do Shopping Popular era de R$ 1.520. Já na nova estrutura, a taxa custa R$ 1.344, uma redução de apenas 11,6%, pouco diante da queda no faturamento.
O comerciante Ariovaldo Mundim, conhecido como Ari Capas, afirma que a cobrança é “indevida” e que a relação entre os associados e a Associação está complicada.
“A administração está cobrando demais. A taxa da estrutura de antes, além de pagar pelos funcionários da Associação, era para o ar condicionado, o piso que tinha que limpar, os banheiros, uma estrutura confortável. Aqui você pode ver que não tem clientes e nem uma boa estrutura. Estamos sofrendo e sempre somos cobrados mais, mais, mais e mais”, desabafa o comerciante. Victor Ostetti/MidiaNews
Para piorar, os associados e clientes estão usando provisoriamente os banheiros do ginásio Dom Aquino, que fica ao lado. No dia que a reportagem visitou o Shopping, dos 15 sanitários no feminino, cinco estavam funcionando; já no masculino, dois se encontravam em manutenção.
“Você não consegue pôr uma escada em um pé de manga quando você planta a semente. Tem que esperar crescer. Depois do incêndio, eu passei a dever vários bancos. Mas conversei com eles e me deram prazo para pagar. Menos a Associação. A Associação só cobra em vez de dar um fôlego para o associado, dar um prazo, parcelar as contas, conversar. Isso prejudica a gente”, reclama.
Antes a taxa do condomínio podia ser parcelada em três vezes, com a data de vencimento no dia 25. Atualmente a Associação cobra o valor integral à vista até o dia 15.
“Como você arrecada para pagar? Não tem como. E se não paga, negativa o seu nome”, esclarece Ari.
Outra comerciante, que preferiu não se identificar, reclama da falta de transparência e prestação de contas.
“Nós soubemos pela mídia que o prédio não tinha seguro. Foi uma decisão que o presidente Misael Galvão tomou sozinho, sem comunicar em assembleia. Ele não é transparente”, relata.
“A gente está pedindo prestação de contas durante os últimos 10 anos. Nós [um grupo de associados] entramos na Justiça para ter a prestação de contas. Nós queremos saber o que pagamos e estamos pagando”.
Ela ainda explica que há membros da diretoria que não pagam a taxa e exigem dos outros associados.
“Enquanto isso tem dias que eu não vendo nada, nem o valor do meu almoço. As minhas vendas diminuíram 90%, mas sou obrigada a pagar essa taxa”, reclama a comerciante.
“A gente junta dinheiro para comprar mercadoria conforme o cliente pede e às vezes não é o suficiente. Mas a administração fala que se a gente não tem dinheiro para o condomínio, é para sairmos e irmos para uma ‘feirinha’. Mas esse lugar é nosso”.
O comerciante Júlio Martins é um dos poucos empreendedores que alugavam bancas antes do incêndio e voltaram para a estrutura provisória. Além do condomínio, ele também precisa pagar o aluguel ao dono.
“Nós não conseguimos manter o pagamento dentro do mês, porque temos que manter o estoque na expectativa e na esperança de fazer a venda quando o cliente vem. É o almoço comprando a janta”, explica.
A situação acaba deixando os empreendedores ainda mais endividados.
Novo Shopping Popular
Diferente do imaginado por todos, a construção não está sendo bancada pela Associação do Shopping Popular, como é divulgado, e sim por alguns empresários que tinham bancas e novos investidores.
“Nós estamos atrás de novos parceiros para ajudar a reconstruir o Shopping, para investir e podermos levantar a estrutura o mais rápido possível. Está muito triste trabalhar dessa forma”, afirma Ari.
“Nós não somos oposição ao Shopping Popular, nós queremos ele mais lindo e mais forte. Agora, o tempo do Misael Galvão aqui já passou. Ele provou que não é um bom administrador, porque se ele fosse, teria seguro predial, ou fundos guardados para reconstruir outro Shopping. Que administrativo é esse? Quem colocaria para administrar a sua empresa alguém que não poupa? Hoje nós estamos sofrendo aqui por má administração”, diz o comerciante.
Mais taxas
Além do condomínio, a Associação impôs a cobrança de um rateio de R$ 6.535, que alguns comerciantes já pagaram, porque foram avisados ser um valor obrigatório para continuar no local.
No entanto, um grupo de associados está tentando impedir essa cobrança, e afirma que o valor exigido é para o pagamento de contas anteriores ao incêndio, que a administração já devia ter quitado.
Houve uma assembleia na última sexta-feira (07) em que a Associação tentou implantar o rateio, mas o grupo conseguiu reverter porque os próprios membros favoráveis à administração não haviam pagado as taxas. Em assembleias, apenas os associados com todos os pagamentos em dia têm direito a voto.
Apesar de todas as dificuldades, todos os comerciantes tentam se manter esperançosos.
“O que nós esperamos é que os clientes também tenham um pouco de paciência, assim como nós estamos tendo. A gente conta com a presença dos cidadãos para vir nos prestigiar, que nos ajude a passar por essa fase difícil”, finaliza Júlio.