Após declarações polêmicas por parte do prefeito de Cuiabá, Abilio Brunini (PL), de que estaria “fazendo um levantamento” de médicos que não estariam atendendo casos sem agendamento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), o Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT) emitiu uma nota afirmando que o gestor municipal estaria criando uma “cortina de fumaça, vendendo a ilusão de que um problema tão complexo possui uma solução simples”.
Segundo o CRM, Abilio tenta criminalizar e imputar a responsabilidade pelo “caos vivido no Sistema de Saúde da Capital” aos profissionais médicos, entretanto, a entidade explica que há “grandes diferenças” entre UBS e Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
“As UBSs não foram feitas para o atendimento de urgências e emergências. Usando como exemplo a iniciativa privada, elas funcionam como o consultório do médico, enquanto as UPAs são os Pronto-Atendimentos dos hospitais. Quando alguém tem dor, febre, vômitos e outros sintomas, esta pessoa não liga para marcar uma consulta, ela vai ao Pronto-Atendimento”, diz trecho da nota.
O CRM disse ainda que a comparação feita por Abilio de que pacientes classificados como “risco verde” nas UPAs e Policlínicas poderiam ser atendidos nas UBSs é uma inverdade, destacando que a “postura do prefeito tem levado pacientes com problemas graves às unidades, colocando em risco a vida destas pessoas”.
“Embora sejam menos prioritários que aqueles com classificação vermelha ou amarela, estes casos também demandam cuidados na própria UPA. Ao longo dos anos, a Atenção Primária passou por um verdadeiro desmonte e, hoje, as UBSs não possuem estrutura adequada para tratamento dos pacientes. Foi retirado do médico até mesmo o direito da emissão da Autorização de Internação Hospitalar (AIH). A população que busca uma UBS sabe que o médico que atende nesta unidade conta apenas com uma caneta e com o bloco de receituário médico e que os exames pedidos não serão feitos, ou serão feitos após um, dois e até mesmo três anos”, disse o CRM em nota.
Outro ponto apresentado pelo CRM foi que a comparação quantitativa de pacientes atendidos feita por Abilio, como forma de medir a produção médica, “é irresponsável”. Além disso, o conselho destaca que muitas consultas feitas nas UBSs acabam não sendo registradas no sistema por “falhas do software utilizado pela Prefeitura de Cuiabá”.
“Ao criminalizar e, inclusive, ameaçar os profissionais de saúde de demissão, o prefeito tenta imputar a estas pessoas a situação caótica do sistema como um todo e, como em outros episódios, tenta criar uma cortina de fumaça, vendendo a ilusão de que um problema tão complexo possui uma solução simples. O comportamento do prefeito, inclusive, contribui para o aumento no número de casos de violência contra médicos, verificado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Em média, um profissional é vítima de violência a cada três horas, considerando apenas os casos em que Boletins de Ocorrência foram lavrados”, afirma o CRM em nota.
O conselho disse ainda que irá responsabilizar Abilio caso ocorram ameaças, injúrias, difamação, agressões e quaisquer outros crimes praticados contra os médicos na rede pública de Saúde, salientando que “seguirá atento e cobrando medidas que efetivamente solucionam a causa principal desta situação, a falta de estrutura, organização, recursos e investimentos”.