O novo diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Marco Cepik afirmou nesta quarta-feira que o avanço das investigações apontam para a existência de um esquema de espionagem ilegal dentro da agência, batizado de "Abin paralela".
— A retirada do sigilo da decisão do ministro Alexandre de Moraes e também as manifestações da direção da PF nos dão a entender que o avanço das investigações apontam para isso (existência de um esquema ilegal de espionagem). Temos que aguardar o final do processo investigatório para verificar não apenas se houve, mas quem estava ali — afirmou em entrevista à Globonews.
A PF apura um suposto esquema de espionagem ilegal na agência no governo de Jair Bolsonaro, quando o órgão era comandado por Alexandre Ramagem, hoje deputado federal. A PF suspeita de um "conluio" com o atual comando do órgão e investiga se houve tentativa de atrapalhar a apuração.
Cepik foi nomeado no lugar de Alessandro Moretti, demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta terça-feira após a PF sustentar que Moretti teria realizado uma reunião com os investigados, quando disse que o procedimento teria “fundo político e iria passar”.
As declarações, afirma a PF, teriam sido dadas na presença de Luiz Fernando Corrêa, que ainda não tinha assumido o comando da Abin. A reunião ocorreu em 28 de março do ano passado, duas semanas após o GLOBO revelar a existência do FirstMile, sistema capaz de monitorar a localização de celulares.
Na entrevista, Cepik ainda afrimou que as trocas feitas por Lula não significam um erro na formação da equipe, mas que são para garantir que não haja nenhuma "dúvida de que há isenção no processo apuratório". O novo diretor-adjunto afirmou ainda "eventuais dúvidas que pairam" sobre a conduta de qualquer um na agência são apuradas com rigor.
— Eventuais dúvidas que pairam sobre a conduta do Alessandro Moretti, do Paulo Maurício, de quem quer que seja, de qualquer um, elas têm que ser apuradas, e são apuradas com rigor.
Sobre a possível obstrução da atual gestão da Abin à apuração da PF, Cepik afirmou que não condiz com a conduta adotada pelos agentes, citando a instauração de procedimentos apuratórios.
— Na extensão do que eu tenho conhecimento, eu não creio que tenha havido nenhum tipo de tentativa de obstrução. O que houve foi uma antecipação, inclusive, da condição de que o inquérito da PF pudesse ocorrer por meio da instauração do procedimento apuratório, da autonomia da corregedoria da Abin para realizar suas atividades, a transferência desses processos apuratórios para a CGU, para a AGU e para o STF. Então, teria que haver uma contradição muito grande entre a conduta dos atores e o que foi efetivamente feito. Por que alguém que quer obstruir uma investigação vai instaurar um procedimento apuratório, vai instaurar um procedimento investigativo?