O governador Mauro Mendes (União) é um potencial candidato ao Senado em 2026. Por conta da natural preocupação com o desgaste eleitoral, em uma ação administrativa, fez uma mudança no comando da PM e apresenta mais um plano que tem a palavra “Zero” no título. Depois do Transporte Zero na Pesca agora é o Tolerância Zero contra a criminalidade. Mauro cuida assim da sua retaguarda política, ele não quer chegar fragilizado na campanha eleitoral diante de um debate certo previsto entre os candidatos às duas vagas ao Senado que estarão em disputa: a escalada do domínio das facções criminosas em Mato Grosso.
O tema já entrou na pauta das eleições municipais deste ano, em especial em Cuiabá, certamente terá um lugar central na eleição de presidente, governador e senador. Preocupado com a falta de resultado, do que costuma falar “de entregas” na segurança pública, o governador começou a cuidar de tentar reverter um desgaste atual que pode afetar a imagem do seu governo a ser julgado pelos eleitores. “Faz muita obra mas na segurança fracassou” é o rótulo que não quer levar para 2026.
Não basta jogar a culpa do avanço das facções na lógica rasa da “a polícia prende a justiça solta”. É preciso dar mais respostas, efetivas e práticas de que há uma política de segurança pública em Mato Grosso e que está dando resultados contra as facções, o que efetivamente hoje não acontece, conforme situou em uma corajosa autocrítica o vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos).
Enfim, o próprio governador Mauro Mendes compreendeu que não bastava criticar as decisões do Judiciário e nem criticar a leniência dos congressistas, era preciso agir no âmbito do seu governo. Conforme destacou o site Gazeta Digital, diante do crescimento das facções criminosas em Mato Grosso, o governador Mauro Mendes (União) decidiu demitir o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Alexandre Corrêa Mendes, um dia antes de lançar o programa “Tolerância Zero ao Crime”, nesta segunda-feira (25). O cargo será assumido pelo secretário-adjunto de Integração Operacional, coronel Cláudio Fernando Carneiro Tinoco. A troca foi anunciada pelo próprio coronel Mendes em uma carta compartilhada em grupos de mensagens, com citações bíblicas.
Segundo apuração do Jornal A Gazeta, a decisão foi tomada após uma reunião tensa entre o governador e o comandante na sexta-feira (22). De acordo com fontes, Mauro Mendes demonstrou insatisfação com o avanço do crime organizado no Estado e cobrou do coronel ações mais efetivas, alegando que os resultados eram insuficientes.
O encontro, que durou mais de três horas, também teria evidenciado o descontentamento de parte da tropa, que criticava a falta de medidas estratégicas e a postura do comandante nas redes sociais.
O governador, que planeja disputar uma vaga ao Senado em 2026 com o combate ao crime organizado como uma de suas principais bandeiras, avalia que os números da segurança pública não são satisfatórios.
Em nota, ao anunciar o lançamento do programa “Tolerância Zero ao Crime”, Mendes prometeu apresentar uma série de ações para reestruturar a segurança pública, incluindo operações integradas e novas estratégias contra o crime organizado.
O coronel Alexandre Mendes, que possui aspirações políticas, vinha usando redes sociais para divulgar ações comunitárias realizadas pela PM sob seu comando, o que, segundo colegas, gerou incômodo dentro da corporação.
Em carta de despedida, Mendes destacou que cumpriu seu papel no combate às facções criminosas, mas criticou duramente a legislação penal brasileira, que, segundo ele, favorece a impunidade.
“Nesta luta, imperioso afirmar que não houve negligência ou qualquer ponta de omissão. Covardia, jamais. Demos a testa a essa luta com os meios e a profundidade que a legislação permite. E aqui reside a questão: prendemos muito, mas temos uma legislação obscena em matéria de impunidade, sejamos francos”, escreveu o coronel, insistindo na estratégia de culpar Congresso e Poder Judiciário.
Em tempo: a conferir se além de novas das ações armadas de combate ao crime organizado, o Plano do Governo incluirá a inteligência policial. Na eleição à prefeitura de Cuiabá deste ano, por exemplo, os candidatos a prefeito Eduardo Botelho, Lúdio Cabral e Abílio Brunini, eleito, concordaram em pelo menos um ponto sobre a cracolândia cuiabana no centro histórico da capital: sem a inteligência policial não tem como barrar a entrada de drogas que abastece aqueles usuários vulneráveis e transforma o centro numa área de negócios das facções.
Ou seja, o desafio é que mais do que um plano, o governador apresente um plano inteligente para enfrentar o crescente domínio do crime organizado em Cuiabá e Mato Grosso, em especial nas cidades ricas do agronegócio, hoje bases também do que pode ser chamado do “crimenegócio”.