A Polícia Civil diz que servidores do DAE-VG (Departamento de Água e Esgoto de Várzea Grande), alvos da Operação Gota D'Água, usavam a expressão "pocotó" para se referir a propina.
Em uma das conversas, um fiscal de corte usa o termo quando tratava de uma ligação de água em uma residência da cidade. “E o pocotó? Vai ter pocotó?”, questiona.
A pergunta foi feita pelo fiscal de corte Anderson de Lima Barros ao colega, também fiscal de corte, Edson Ribeiro dos Santos. Ambos foram alvos de busca e apreensão e mandado de afastamento do cargo no âmbito da operação, que foi deflagrada pela Deccor (Delegacia Especializada de Combate à Corrupção) no último dia 20.
A operação apura supostas fraudes no sistema do DAE em Várzea Grande, e descobriu que servidores utilizaram sete tipos de esquema para fraudar a autarquia, entre elas, a cobrança de valores por serviços devidos.
Na conversa entre os fiscais de corte, Edson conta a Anderson que o diretor-comercial da autarquia, Alessandro Macaúbas Leite de Campos, determinou que eles fizessem duas ligações de água com material do DAE. Alessandro foi preso na operação.
Ao receber a demanda, Anderson questiona se haverá "pocotó". Edson responde: "Não sei se tem o 'pocotó', para mim ele [Alessandro] não falou nada, ele falou que é para fazer!".
O inquérito policial ao qual a reportagem teve acesso não especifica a data da ligação telefônica.
Para a Polícia, a conversa é uma clara demonstração de que a cobrança de propina “se trata da regra” para a realização do serviço de abastecimento de água.
A operação
A Gota D'Água cumpriu 123 mandados judiciais, entre prisões preventivas, busca e apreensão, suspensão de função pública, sequestro de bens e bloqueio de valores e medidas cautelares diversas.
A principal medida foi a determinação de intervenção imediata do Município de Várzea Grande na diretoria comercial do DAE, com o objetivo de restabelecer a prestação regular e efetiva do serviço público de abastecimento de água e esgoto, que foi cooptado pelo grupo criminoso.
Foram decretadas 11 prisões preventivas, entre elas a do vereador Pablo Pereira e do direto comercial Alessandro Macaúbas, que são apontados como líderes do suposto esquema.