O Parque Estadual Cristalino II, entre os municípios de Alta Floresta e Novo Mundo, em Mato Grosso, enfrenta uma grave crise ambiental neste Dia da Amazônia, 5 de setembro. Incêndios florestais já destruíram 7.160 hectares da unidade de conservação, localizada no chamado “arco do desmatamento” da Amazônia.
Ambientalistas apontam que a região tem sido devastada por queimadas diárias, enquanto o governo estadual não estaria adotando medidas efetivas para conter o avanço do fogo.
Segundo dados do Instituto Centro de Vida (ICV), baseados em informações da NASA, o fogo já consumiu uma área equivalente a mais de 10 mil campos de futebol dentro do parque. Além disso, outros 10 mil hectares foram destruídos no entorno do Cristalino II, pressionando ainda mais a unidade de conservação.
O aumento das queimadas em 2024 é alarmante. Em comparação ao mesmo período de 2022, houve um crescimento de 40% nos focos de calor, sem que o governo do estado tenha mobilizado equipes suficientes para combater o fogo. O parque tem contado apenas com a atuação de oito brigadistas voluntários.
Disputa judicial e omissão governamental
O Parque Cristalino II está no centro de uma disputa judicial que envolve a empresa Sociedade Comercial e Agropecuária Triângulo Ltda, cujo um dos sócios é Douglas Dalberto Naves, apontado pelo Ministério Público Federal como “laranja” do desmatador Antônio José Junqueira Vilela Filho. Em 2022, a Justiça extinguiu o decreto que criou o parque, o que resultou em novos incêndios e na destruição de cerca de 5 mil hectares naquele ano.
Organizações da sociedade civil criticam a falta de ação do poder público. O Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad), o Observa-MT e a Rede Pró Unidades de Conservação, responsáveis pela campanha SOS Cristalino, protocolaram hoje um requerimento cobrando medidas urgentes do governo estadual. As entidades exigem a mobilização de bombeiros e policiais, além de equipamentos adequados para o combate ao fogo.
A advogada Bruna Bolzani, do Formad, destacou que a situação no Cristalino II reflete a omissão do Estado. “É um escândalo. O parque está queimando e o governo não toma providências”, afirmou.
Impactos ambientais e conflitos de interesse
Os incêndios florestais no Cristalino II não afetam apenas a vegetação, mas também a fauna local, que perde seu habitat natural, além de gerar poluição atmosférica que pode atingir cidades próximas e distantes, conforme explicou Edilene Amaral, consultora jurídica do Observa-MT. “Esses incêndios são resultado de uma disputa entre a preservação ambiental e grupos que buscam consolidar a ocupação ilegal de terras públicas”, disse a advogada.
A região do parque é alvo de interesses do agronegócio, mineração, extração ilegal de madeira e especulação imobiliária, que veem na preservação do Cristalino um obstáculo para suas atividades exploratórias.