Numa prova de que o país possui um serviço de inteligência capaz de cumprir suas obrigações legítimas quando há vontade política para isso, uma investigação oficial em torno de uma conspiração contra o Estado Democrático de Direito começa a mostrar os primeiros resultados. As notícias são estarrecedoras.
Conforme relatório da Polícia Federal, elaborado com base em reuniões, trocas de mensagens e conversas telefônicas monitoradas com autorização judicial, num serviço discreto e silencioso as autoridades acabam de colocar as mãos numa temerária operação no primeiro escalão das Forças Armadas, empenhada em conspirar contra o regime democrático e o governo Lula. Uma indecência e um escândalo.
Integrada por um grupo de oficiais -- dez generais, 16 coronéis e um almirante tinham sido identificados até esta manhã -- essa trama alimentou-se de uma daninha influência golpista das Forças Armadas do país, que já produziu vários momentos trágicos na história da República.
Monitorando conversas pelo celular de oficiais envolvidos na conspiração, a investigação chegou a um diálogo do general Mário Fernandes, que durante o governo Bolsonaro ocupou um cargo relevante no Palácio do Planalto.
Em plena conspiração para manter Bolsonaro no Palácio, apesar da vitória de Lula, confirmada pelas urnas e pelo TSE, o general Fernandes deixou registrado seu inconformismo com a decisão do Alto Comando do Exército, que cumpriu seu dever constitucional, respeitando a vontade das urnas: "Quatro linhas da Constituição é o cacete", disse ele ao celular, conforme relato do Estado de S. Paulo.
Em novembro de 2024, passados quase dois anos de sua terceira vitória numa campanha presidencial -- único político brasileiro que chegou a tanto -- Luiz Inácio Lula da Silva mostrou-se à altura de uma das mais graves crises de seus mandatos presidenciais por uma razão clara e insubstituível.
Enfrentando uma operação golpista que nem todos puderam (ou quiseram) enxergar na hora certa, Lula mostrou quem é, mais uma vez, por uma razão muito simples. Contra adversários que tentavam virar a mesa, como tantas vezes se viu na história da República, cumpriu seu dever.
Cumpriu e fez cumprir a Constituição de seu país -- primeira obrigação como presidente.
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