Cuiabá, 12 de Outubro de 2024

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Judiciário Sexta-feira, 28 de Junho de 2024, 09:06 - A | A

Sexta-feira, 28 de Junho de 2024, 09h:06 - A | A

DENÚNCIA

MPE acusa 17 PMs de armarem emboscadas para execuções

A acusação é proveniente da Operação Simulacrum, deflagrada pela Polícia Civil em 2022

Midianews

O Ministério Público Estadual (MPE) denunciou 17 policiais militares e um segurança particular pelo crime de homicídio contra Mayk Sanchez Sabino e tentativas de homicídio contra Rômulo Silva Santos e mais duas pessoas não identificadas. 

A denúncia é proveniente da Operação Simulacrum, deflagrada pela Polícia Civil em 2022, e que levou à prisão 63 militares e um civil suspeitos de forjarem confrontos para cometerem execuções. 

Segundo as investigações, o grupo teria atuado na morte de 24 pessoas, em Cuiabá e Várzea Grande, além da tentativa de homicídio de, pelo menos, outras quatro. 

A denúncia é assinada pelos promotores de Justiça Vinicius Gahyva Martins, Marcelle Rodrigues da Costa e Faria, Samuel Frungilo, Jorge Paulo Damante Pereira e César Danilo Ribeiro de Novais.

Foram denunciados os policias militares Altamiro Lopes da Silva, Antônio Vieira de Abreu Filho, Arlei Luiz Covatti, Diogo Fernandes da Conceição, Genivaldo Aires da Cruz,  Heron Teixeira Pena Vieira, Ícaro Nathan Santos Ferreira, Jairo Papa da Silva, Jonathan Carvalho de Santana, Jorge Rodrigo Martins, Leandro Cardoso, Marcos Antônio da Cruz Santos, Thiago Satiro Albino, Tulio Aquino Monteiro da Costa, Vitor Augusto Carvalho Martins, Wesley Silva de Oliveira, Paulo Cesar da Silva e o segurança particular Ruiter Cândido da Silva.

De acordo com a denúncia, o grupo agia através da ajuda de Ruiter, que  era o responsável por "selecionar" as pessoas que seriam mortas. 

Ele cooptava indivíduos dispostos a praticarem um delito patrimonial e os convencia de que seria um crime fácil e lucrativo. Inclusive, em alguns casos se dizia segurança do local e que facilitaria o roubo.

Entretanto, conforme a denúncia, tudo era armação. Ele conduzia os supostos criminosos para um local onde os policiais aguardavam para interceptá-los. Ali, simulavam um confronto para executar as vítimas, diz o MPE.

“Em todos os casos, verifica-se que o responsável por selecionar as pessoas que seriam mortas (ditos ‘malas’) as escolhia a esmo e de acordo com suas impressões pessoais, e que os policiais militares envolvidos direta ou indiretamente nos homicídios sequer sabiam quem estava sendo executado”, diz trecho da denúncia.

Conforme a denúncia, as combinações entre Ruiter com integrantes da Polícia Militar teve início após um assalto ocorrido na residência do sogro dele e irmão de um coronel da PM.

“A partir de então o denunciando foi apresentado a policiais militares para ajudar na identificação de autores de crimes, vez que transitava bem entre criminosos e, com o tempo, passou a ser orientado a se infiltrar no meio para repassar informações às ditas inteligências das unidades especializadas da Polícia Militar e a instigar indivíduos a cometerem crimes, a fim de serem impedidos pelos agentes de segurança pública, gerando assim, produtividade, respeito e promoções no meio policial”, diz trecho da denúncia.

“Conforme relatado, em dado momento a finalidade dessa parceria começou a mudar. Em vez de prender criminosos, Ruiter e os militares passaram a objetivar matar os supostos ‘bandidos’, como forma de promover seus nomes e os batalhões em que estavam lotados”, diz outro trecho da denúncia.

Ainda de acordo com a denúncia, ao ser interrogado, Ruiter confessou a condição de cooptador e confirmou as suspeitas de que essas situações eram ‘armadas’ em conjunto com policiais militares, visando arrebatar indivíduos com ou sem passagens criminais. 

Morte de Mayk

O homicídio contra Mayk e as tentativas de homicídio contra Rômulo e mais duas pessoas, conforme o MPE, ocorreu em 25 de maio de 2020, no Coxipó do Ouro.

Conforme a denúncia, Ruiter contatou Valmir de Souza Oliveira, que seria comparsa de um certo José Luiz da Costa, conhecido como “Seu Zé”, para praticarem um roubo a uma mineradora, onde haveria valores e ouro para serem subtraídos.

De acordo com o planejado, Ruiter ficou de se encontrar com os “comparsas” no ponto final do bairro Três Barras, de onde seguiria em um Gol, de cor branca, guiando os demais, que estavam em uma Strada e uma caminhonete Hilux.

No local marcado,  vários policiais militares abriram fogo pesado contra a Strada, vindo a matar o motorista (Mayk), enquanto o passageiro (vítima desconhecida), desembarcou do carro e conseguiu fugir embrenhando-se pelo mato. 

Nesse ínterim, a caminhonete Hilux deu meia volta e evadiu-se do local, mas interceptada logo à frente pelos policiais militares que estavam escondidos no mato, os quais passaram a disparar contra o carro, que conseguiu passar e foi abandonado logo adiante, tendo seus ocupantes fugido pelo mato. 

“Embora não se saiba a quantidade e a identidade de todos que estavam na Hilux, a investigação policial apurou que, no mínimo, havia dois indivíduos no veículo, sendo um destes a pessoa de Rômulo Silva Santos, que ocupava o banco do passageiro, foi atingido por disparo de arma de fogo, vindo a perder metade do dedo, cujo pedaço foi encontrado no local”. 

"Sangria desenfreada" 

Ainda na denúncia, os promotores afimaram que salta aos olhos a escalada da letalidade nas intervenções policiais militares na região metropolitana de Cuiabá e Várzea Grande. 

Conforme eles,  em 2023 mais de um a cada três homicídios foram cometidos por policiais militares. 

“Situação que torna urgente e necessária a atuação do Sistema de Justiça no sentido de estancar a sangria desenfreada e que mira setores específicos da sociedade, jovens que habitam as periferias, em geral marcados pela cor da pele e pela condição social de pobreza”, escreveram. 

“A eficiência da polícia é dimensionada pela capacidade de evitar que os crimes aconteçam, e não pelo número de pessoas que ela mata. Polícia que mata é polícia ineficiente. Uma análise detida aos registros da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) demonstra uma escalada exponencial de mortes decorrentes de intervenção policial militar, em relação aos homicídios catalogados na região metropolitana de Cuiabá e Várzea Grande, ao longo dos últimos anos, num incremento estarrecedor e indicativo da falta de controle e da ineficiência de parte do aparato policial”, pontuaram.

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